São Francisco 2.0 por Ilana Lerner

Publicado em Categoria: Cultura, Sem categoria

 

Estava assistindo a um documentário sobre a cidade de São Francisco na Califórnia e as mudanças que aconteceram nela em virtude da invasão das empresas de tecnologia.
A história é a seguinte: no inicio da era das empresas de tecnologia, a grande maioria delas se instalou no Vale do Silício. Porém a grande maioria das pessoas preferia morar em São Francisco, distante somente 64 km, mas muito melhor estruturada e considerada uma das melhores cidades para se morar nos Estados Unidos. Essa população toda ia e voltava diariamente em charters das próprias empresas, inundado a cidade com seus ônibus de dois andares. Vendo uma possibilidade de negócio, a prefeitura de São francisco acabou facilitando a vinda dessas empresas e seus Headquarters para a cidade gerando uma grande modificação estrutural, social e econômica.
Com a vinda dessas empresas, a cidade experimentou uma grande mudança física. Varias áreas degradadas acabaram sendo renovadas para absorver essa nova população. Novas áreas residenciais também começaram a ser estruturadas. Uma nova onda de moradores, economicamente forte veio morar na cidade.
Tudo lindo né? Não.
Apesar da entrada de biliares de dólares e muitos empregos na cidade, o que aconteceu foi uma coisa curiosa. Muitas pessoas sofreram com essa transformação, principalmente a classe média e as pessoas de baixo poder aquisitivo. Com a chegada das empresas houve uma maxi valorização dos espaços urbanos o que desencadeou um processo de despejos nunca visto antes em tão grande escala na cidade. Milhares de pessoas foram retiradas de suas casas para dar espaço aos futuros moradores e aos empreendimentos imobiliários visando essa nova população, teoricamente mais abastada. Foi uma enxurrada! O resultado foi milhares de pessoas na rua, o aumento da distancia entre ricos e pobres, o nascimento de guetos sociais, tudo que a cidade não queria.
Porém, São Francisco é uma cidade onde os moradores tem muita força e suas entidades representativas são extremamente atuantes.  A força da identidade da cidade e uma população que se identifica com essa identidade sempre marcaram São Francisco e fizeram a diferença. Milhares de pessoas se mobilizaram para atenuar os efeitos dessa nova realidade. Empresas foram taxadas, sistemas foram repensados. As pessoas saíram às ruas para evitar a descaracterização física e principalmente social da sua cidade.
E daí penso: o que nos caracteriza como cidade? Pelo que iriámos às ruas? Porque não temos essa consciência enquanto moradores de uma das melhores cidades do Brasil? O que a cidade fez para empoderar esses processos de identificação e responsabilidade dos moradores?
Não pode ser tão difícil, afinal é como se fosse cada um defendendo a sua casa, coletivamente. Por que no Brasil isso é tão raro?
Tá na hora das cidades criarem essa consciência e tomar frente a esse processo, promovendo esse debate. Tá na hora da população entender onde mora, conhecer suas características e elencar o que quer preservar a todo custo e o que quer de novo em suas cidades. Vou começar a minha lista já!

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